Inpa e CMA realizam workshop sobre projeto Tsiino Hiiwiida para conhecer a biodiversidade na Cabeça do Cachorro
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Em encontro, pesquisadores selecionados na chamada Expedições Científicas discutem os desafios para a realização de pesquisa em regiões de difícil acesso

Texto: Cimone Barros/ Ascom Inpa
Fotos: Charles Zartman | Cimone Barros
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realizou o 1º Encontro do Projeto Tsiino Hiiwiida: revelando múltiplas dimensões da biodiversidade de plantas e fungos no Alto do Rio Negro, no Comando Militar da Amazônia (CMA). A finalidade do projeto Tsiino Hiiwiida é reduzir as lacunas do conhecimento da biodiversidade amazônica, através de coletas botânicas, e fortalecer redes colaborativas com foco na região Norte do país.
Tsiino Hiiwiida significa Cabeça do Cachorro em Baniwa e representa o compromisso do projeto com o protagonismo indígena, tendo indígenas trabalhando junto com e não para os pesquisadores não indígenas. Liderado pelo Inpa, o projeto conta a participação de universidades e institutos de pesquisa e foi um dos 22 selecionados no edital Expedições Científicas, do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Durante o Encontro, pesquisadores, militares e representantes de povos indígenas envolvidos no projeto discutiram desafios para a realização de pesquisa em regiões de difícil acesso, características geográficas e da biodiversidade da região do Alto Rio Negro conhecida como Cabeça do Cachorro, tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Venezuela, onde serão realizadas expedições científicas em parceria com as comunidades.
“A finalidade desse primeiro encontro é uma apresentação conjunta das diferentes áreas de estudo que compõem o projeto, planejamento estratégico e organização do cronograma das expedições, além de estreitar a relação com o CMA, importante parceiro na operacionalidade do projeto com o apoio logístico”, explica o pesquisador do Inpa e coordenador do projeto Charles Zartman.
Para o coordenador, o projeto Tsiino Hiiwiida é um marco na ciência brasileira ao unir pesquisadores, comunidades indígenas e forças militares na missão de revelar a biodiversidade ainda desconhecida de uma das regiões mais remotas da Amazônia, a Cabeça do Cachorro, e que possui uma das maiores diversidades étnicas - 24 povos indígenas - e uma das maiores populações indígenas do Brasil. Ao integrar conhecimento científico, saberes tradicionais e logística estratégica, a iniciativa inovadora fortalece a presença do Estado na tríplice fronteira e amplia as fronteiras do conhecimento sobre um dos territórios mais biodiversos e culturalmente ricos do planeta.
Para o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, essa parceria é estratégica, permitindo chegar mais longe e mais profundamente na Amazônia. O Inpa tem 70 anos de trajetória científica na região e a maioria das pesquisas no bioma está concentrada próximas a rios e a áreas onde existe alguma infraestrutura. “Isso quer dizer que uma parte grande da Amazônia permanece pouco conhecida. Com o apoio e participação direta de organizações como o CMA e das comunidades indígenas, isso vai permitir que nossas equipes cheguem mais longe e nas regiões mais distantes da Amazônia”, destacou Pereira, complementando que não se pode imaginar em proteger um patrimônio sem conhecê-lo, e a pesquisa intercultural é fundamental nesse processo.
O Chefe do Estado-Maior do CMA, General de Brigada Calderaro, ressaltou a presença do Exército na Amazônia Ocidental, em particular na Cabeça do Cachorro, lembrando que a defesa nacional extrapola o homem com fuzil. “Passa também pela presença na área científica e no domínio de conhecimentos que são necessários para todos nós”, disse Calderaro.

Ampliação do conhecimento
O Projeto Tsiino Hiiwiida é um dos projetos contemplados pela Iniciativa Amazônia+10 para apoio de expedições científicas voltadas à ampliação do conhecimento sobre a sociobiodiversidade e a biodiversidade amazônica. O objetivo do edital é preencher duas lacunas importantes do conhecimento científico sobre a região, uma geográfica e outra taxonômica, ciência que estuda a classificação e nomenclatura dos seres vivos, além de expandir as pesquisas sobre a diversidade sociocultural dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia.
Além da colaboração logística, o Ministério da Defesa contribui com a participação de pesquisadores da Escola Superior da Defesa, nas áreas de geografia e saúde única, que estuda novas ameaças epidemiológicas a partir de uma dimensão integrada entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental.
A equipe do Tsiino Hiiwiida é composta por pesquisadores de oito instituições de pesquisa que contarão com o financiamento das agências de fomento de seus estados. Fundação de AMaparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapem): Charles Eugene Zartman –Inpa); Faperj: Domingos Cardoso – Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ); Fapespa: Anna Luiza Ilkiu-Borges – Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG); Facepe: Clístenes Williams Araújo do Nascimento – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); Fapema: Dirce Leimi Komura – Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA); Fspesp: Denilson Fernandes Peralta – Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA); Fspesq: Felipe Wartchow – Universidade Federal da Paraíba (UFPB); FAPDF: Micheline Carvalho-Silva – Universidade de Brasília (UnB) e UKRI: Sandra Knapp – Natural History Museum.
Na Iniciativa Amazônia+10 foram aprovados 22 projetos, que contemplam 60 localidades pouco abordadas pela comunidade científica e serão estudadas por um período de até 36 meses. Entre elas estão as terras indígenas, reservas de desenvolvimento sustentável e extrativistas e outras regiões de difícil acesso.